Vida a dois

Hoje tô num dia legal para escrever sobre relacionamentos, só não sei se o meu vai sobreviver ao texto! sic!

Vida a dois é sempre aquela coisa: às vezes nas maiores dificuldades, entre trancos e barrancos enfrentamos todas as tempestades e sobrevivemos, mas em certas ocasiões uma simples mijadela fora do vaso se transforma numa tempestade!

Existe algum segredo ou truque para manter a harmonia?! Não sei a resposta, talvez seja este o problema.

Vamos por partes: o que buscamos num relacionamento?

Tudo deve começar com tesão, porque se não há tesão meu irmão, a coisa vai pro brejo antes mesmo de começar... Mas, nem só de cama vive o homem...

Primeiro encontramos aquela pessoa que nos atrai, fisicamente. Nos aproximamos, conversamos, queremos saber de tudo sobre a outra parte: o que gosta, o que não gosta, o que faz, pensa, come etc. Num certo momento, a coisa tá indo tão bem, ou estamos tão cegos de tesão que o que rola é sexo... muitas vezes já no primeiro encontro... o que faz a loucura ainda aumentar em exponencialidade! 

Ok, sexo foi ótimo, gostamos da pessoa, achamos vários pontos em comum, começamos a nos ver mais e mais, a coisa começa a se complicar... começamos a sentir uma tremenda dificuldade de afastar a pessoa de nossa mente, não conseguimos nos concentrar, contamos as horas para o tão esperado encontro, quase temos morte súbita ao primeiro toque do telefone... aquele SMS simples dizendo "sinto sua fata" nos dá caimbras... Chega a hora, um jantar, um cinema, uns drinks e venha de adrenalina... pensamos em comprar uma cama mais resistente...

A coisa chega num ponto que precisamos ficar juntos a maior parte do tempo possível... decide-se morar juntos, ou casar ou qualquer coisa no gênero... caixas, mudança, adaptações na casa e nos horários... a vida toma outra dimensão...

Tinha um amigo que dizia que o casamento é um barril cheio de merda com uma camada de mel como cobertura... no começo você está na camada de mel, mas não esquenta não, porque logo o mel se acaba e vc estará na merda!

Acho que quando dividimos somente a cama, tudo se torna mais fácil. O universo todo se resume àquela cama e ao que rola naquelas quatro paredes... A vida e os sentidos parecem se expandir...

Quando dividimos o mesmo teto o mundo se comprime... aquela escova de dentes que não é sua, mas está no seu banheiro é somente o começo... aí vem as complicações do dia-a-dia: limpeza, comida, assistir à TV, as horas na internet, os amigos... tudo deve ser compartilhado e integrado...

Surgem os primeiros conflitos pois habituado à sua rotina, agora não consegue mais achar um tempo para vc, surge aquela roupa íntima deixada descuidadamente no chão do banheiro, aquele copo que foi colocado no armário errado, aquela comida talvez um pouco mais apimentada que de costume, hoje vc está afim de vinho tinto, mas a outra parte quer champagne...

Aí surge um problema na família, de qualquer das partes, mas para um dos lados é o fim do mundo, para o outro, simples rotina... há discussões quanto a deixar problemas de terceiros influciar sua vida diária, algumas vezes chega-se a um comum acordo, outras não...

Parece que o único refúgio é aquela cama e aquelas quatro paredes... Parece que somente ali ainda existe ainda um pouco de mel. Fora de lá, já se encontra atolado na merda até o pescoço...

O tempo não mais lhe pertence. Pequenos prazeres que vc somente pode desfrutar sózinho como a leitura de um bom livro, de suas revistas prediletas... ouvir as quatro estações de Vivaldi no silêncio de sua casa, tornam-se raridade! Senão, impossibilidades.

Assim que vc se entrega a qualquer dessas atividades, entra a outra parte toda coberta de farinha e te quer na cozinha, onde está preparando uma nova receita de bolo... Você não tem escolha, Vivaldi fica esquecido num canto da sala, mas o bolo também não sai, pois em meio à farinha, ovos, chocolate, e tudo mais, os dois se perdem e se encontram sobre a mesa, sobre a pia e no chão... Encontram o mel no barril da cozinha!

Numa outra ocasião, aquele seu amigo que está com problemas te pede dinheiro emprestado, fato que justamente coincide com o momento em que a outra parte quebra o telefone celular e decide comprar aquele tão sonhado iPhone 4 que custa uma fortuna e lhe pede dinheiro, mas vc não tem porque emprestou para o amigo... Mágoa... angústia... e a tão temida pergunta: "Você não me ama mais?"

Muitas vezes Oriente e Ocidente se encontram e se chocam em casa, pois as duas partes vem de culturas diferentes. Com valores, objetivos, mentalidades a até gosto culinário completamente distintos... Por um lado este encontro de civilizações é interessante e enriquecedor, mas por outro aumenta ainda mais o muro que está sendo construído entre as partes.

Há que se derrubar o muro e encontrar o mel perdido. Novas idéias aparecem: um jantar romântico à luz de velas, um presente, aquela música agradável, um bom vinho e uma boa conversa... e uma noite ardente!
O muro tem tudo para cair, mas a sua idéia de jantar romântico é vinho, um maravilhoso bife e pasta com Jazz/Blues de fundo. A outra parte quer comida chinesa, não toma vinho, não gosta de macarrão, não come queijo e não tem idéia do que Jazz ou Blues é capaz de fazer... Prefere ópera chinesa...

Novas discussões, novas cobranças, choro, pedidos de desculpas e sexo ardente na sacada do prédio sem se preocupar com os vizinhos. O muro cai. Parece que a camada de mel no barril se auto-completa e a vida continua.

Não me perguntem como vai acabar a estória. Só sei que ainda vai haver muito mel e merda também...