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Wednesday, August 24, 2016

Se matando aos poucos



Cedo ou tarde todo mundo passa por situação semelhante: quem não tem ou teve pessoas na terceira idade e difíceis de lidar na família? Acho que faz parte, mas quando a questão é Saúde, a coisa se complica.

Lembro-me de minha avó materna que passou a vida toda com diabetes, portanto, tendo todos os familiares controlando sua ingestão de doces, coisa que ela fazia mesmo descaradamente, chegando a ter pacotinhos de balas debaixo do colchão, mas que acabou encontrando seu final em um problema na vesícula.

Nós mesmos sabemos das coisas que fazemos erradas: da vida rotineira, da falta de exercício, do cigarro, da bebida e demais práticas no mínimo questionáveis, mas mesmo assim continuamos naquela vidinha.

Meu pai está beirando os 80 anos, sempre foi do mato, do sítio, de tomar umas pingas e adora essa vida campeira. Sempre trabalhou duro, madrugando, cuidando de gado e demais deveres do campo até que acabou vindo para a cidade, montou um estabelecimento comercial e deixou, por um tempo, aquela vida no campo para trás.
Logicamente sempre sentiu falta e há alguns anos me infernizou tanto a vida que acabei comprando um sítio (pequeno) para ele. Todos em casa concordam que se não fosse por isso, pelo fato de ter um pedaço de terra onde ele pode plantar, cavoucar, fazer cercas, criar animais, curtir o mato etc, talvez já tivesse morrido.
A coisa é que com a idade avançando começou a ter problemas de pressão, diabetes, entre outras e até devido à idade mesmo não pode mais tomar as pinguinhas dele como no passado. Seu organismo mudou. Não suporta mais tais coisas.

Na última leva de exames que fez, deu alteração em tudo: diabetes, sangue fino, coração fraco, começo de cirrose... Ele não pode beber, senão vai morrer disso.
Segundo os médicos não poderia mais fazer esforços físicos ou ficar sozinho. Mas a esta altura do campeonato quem vai colocar na cabeça daquele homem que ele não pode mais ir para o sítio, se esforçar por lá como fatalmente ele tem que fazer para cuidar das galinhas e demais afazeres? Que ele não deve mais ficar sozinho, tomar suas canjibrinas?

Houve uma discussão acalorada em casa, pois mamãe não se conforma com tal imprudência e quer forçá-lo a reduzir o ritmo de qualquer jeito...

De minha parte, tenho duas certezas: a primeira de que ele jamais irá se recolher em casa e "nos" obedecer. Eu não o faria.
A segunda é a de que se ele realmente fizesse isso, aí sim teríamos um velório bem mais cedo...

Ele sempre teve medo da morte. Parar de beber, ele já parou, mas quanto ao resto, esqueça.

O fato é: começamos a morrer no dia em que nascemos. Fazemos coisas saudáveis e outras nem tanto. Todos sabem o que não devem fazer. Moderação sempre é bom, reduzir o ritmo ajuda, mas acho que até certo ponto e isso depende da pessoa.

Nos matamos um pouco sim, a cada dia, e temos todo o direito de fazer isso.

Vida longa meu pai!

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